Inclusão digital para uma internet acessível, usável e comunicativa

Seja por meio de uma conversa, uma mensagem de texto ou uma fotografia, a interação em sociedade acontece por meio da comunicação, e isso não é diferente na internet. No entanto, à medida em que seguimos cada vez mais presencialmente isolados uns dos outros, com nossas pesquisas, postagens e compartilhamentos, fica mais fácil esquecer do que vai além de nós – e nossas “bolhas” – no uso da internet. Como colaborar para a inclusão digital de outros usuários para uma internet mais livre, aberta e, de fato, comunicativa?
 
Acesso é inclusão digital?
Os termos acesso, usabilidade e inclusão digital sempre acabam aparecendo em conjunto em discussões sobre como a sociedade se comunica pela internet. Segundo Cristina Mori, em sua publicação “Políticas públicas para inclusão digital no Brasil”, é possível investigar o que se considera Inclusão Digital em três principais vertentes: inclusão digital como acesso, como alfabetização digital e como apropriação de tecnologias. Tendo em vista a primeira das vertentes evidenciadas, a qual se relaciona mais à problemática desta postagem, incluir digitalmente uma pessoa seria conceder a ela acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
O acesso às tecnologias como computadores, celulares e internet sem fio, de fato, é essencial para que as pessoas tenham a possibilidade de comunicação através das redes. No entanto, a questão da inclusão, como a própria autora aponta, também precisa ser vista para além do simples acesso às tecnologias e à infraestrutura da internet. Ter um computador com acesso à internet é, como primeiro passo, essencial – mas saber utilizá-lo e conseguir, de fato, se comunicar, acessar a informação disponível na internet e usá-la é uma questão de caráter social muito mais profunda e diversa. O acesso pode ser visto como uma porta de entrada, mas não como garantidor do uso consciente e reflexivo das tecnologias e da internet.
 
Usabilidade online: aprofundando o acesso
Tendo em vista que ter acesso não significa necessariamente saber ou conseguir usar as tecnologias e de fato se comunicar na internet, fica claro que nem todos com um computador ou celular estão incluídos digitalmente. Estar conectado é, acima de tudo, estabelecer comunicação com o outro ― o qual pode viver em contextos sociais, econômicos e até mesmo físicos totalmente diferentes dos nossos. Ao levarmos em conta a internet como um ambiente que reflete e traz novas possibilidades à sociedade offline – se é que podemos fazer essa distinção –, é indispensável considerar na infraestrutura, na linguagem e nos conteúdos que circulam em rede todas as diferenças presentes em nossa sociedade.
Pensando nessa gama diversificada de usuários é que o termo “usabilidade” aparece. O conceito de usabilidade se relaciona diretamente à facilidade que temos no uso das mais diversas interfaces com as quais temos contato online: sejam sites, aplicativos, redes sociais ou mecanismos de busca. Afinal, podemos até ter acesso a um site, mas será que realmente conseguimos atingir nossos objetivos neste site se o seu conteúdo for desorganizado, os textos forem pouco legíveis ou a conexão com o servidor esteja sempre caindo? Uma interface com boa usabilidade é aquela que se preocupa com o seu usuário em todos os sentidos: desde a simplicidade de navegação e a clareza das informações até a própria escolha das cores. A atenção de desenvolvedores e webdesigners a esses aspectos é essencial para que as pessoas não somente acessem, mas também tenham a melhor experiência de uso e, de fato, entendam as mensagens comunicadas pela interface.
 
A internet está realmente cada vez mais interativa?
Você já parou para pensar sobre como seria a experiência de uma pessoa cega ao acessar um site repleto de imagens em relação a outra que consiga enxergar? Podemos dizer que ambas têm acesso ao site – uma apenas pelo navegador, e a outra associando o navegador a um software leitor de tela –, mas não garantir que as duas tenham a mesma experiência no uso, o que torna o mesmo site, na prática, diferente para os dois usuários. A descrição de conteúdo visual pode ser feita de forma simples e possível de ser identificada através de softwares leitores de tela, mas ainda assim dificilmente nos deparamos com sites que se preocupem em fazer isso.
Esse é apenas um pequeno exemplo de como o senso comum erra em muitos aspectos ao caracterizar o ambiente online como cada vez mais diverso e interativo. Ao considerarmos acessíveis conteúdos como postagens de divulgação, sites de empregos e perfis em redes sociais sem pensar em muitas pessoas com restrições físicas e cognitivas, por exemplo, excluímos da interação – e, portanto, do acesso à informação e oportunidade à comunicação – usuários que fazem parte da diversidade que compõe a internet e a sociedade no geral. A despreocupação com o interlocutor acarreta na exclusão digital que, inevitavelmente, também é social.
Incluir o outro na comunicação é dever de todos nós
Até aqui fica clara a necessidade de que técnicos, desenvolvedores, webdesigners e profissionais da comunicação devem se lembrar sempre, na construção de discursos textuais, visuais ou audiovisuais, de quem pode estar do outro lado, para que, de fato, a mensagem seja acessível a todos. No entanto, lembrar que a internet é um ambiente onde participam e estão em questão interesses dos mais diversos setores da sociedade é importante ao avaliar o que pode ser feito para tornar a internet um lugar mais inclusivo.
A rede é composta por técnicos, governos, pesquisadores, organizações da sociedade civil (como o IRIS), empresas e também nós mesmos, usuários. Portanto, tornar a informação acessível e, assim, a comunicação sempre aberta pode acontecer não apenas por linhas de programação ou mudanças de interface de redes sociais, mas de diversas outras formas que tangem todos os demais setores e, inclusive, os próprios usuários. Essa discussão é relativamente recente, e vem sendo discutida também no Brasil, como no workshop sobre Políticas de Inclusão Digital do VIII Fórum da Internet no Brasil.
O que podemos fazer, então?
Reconhecer a presença do outro em tudo o que comunicamos ―  seja on ou offline ― é o primeiro grande passo na busca de inclusão social e também digital. Para isso, o exercício de empatia é imprescindível. Essa tarefa constante de tentar se aproximar do lugar do outro não é nada fácil, mas ainda assim, não é impossível.
Se você é designer, já parou para pensar que existem pessoas daltônicas e que é possível desenvolver peças gráficas com cores que funcionem também para esses usuários? E se você tem uma galeria de fotos no Instagram, página no Facebook ou perfil no Twitter, já ouviu falar da hashtag #ParaCegoVer, que traz um guia para a descrição textual de imagens para pessoas com deficiência visual? Iniciativas como essas, que a princípio parecem simples, mostram como a empatia, ao se fazer presente na produção de conteúdo e de interfaces para os mais diversos usuários, amplia a comunicação e, por consequência, a participação social na internet.
Aprender, discutir e executar
Pensar em inclusão digital, como já dito, é pensar sempre no lugar do outro na interação e comunicação. Nem sempre a forma como costumamos escrever posts, criar imagens ou publicar vídeos é a mais adequada para que aquilo que elaboramos seja, de fato, acessível a todos. Reconhecer que nossa perspectiva é diferente da perspectivas do outro é imprescindível para que pensemos, incluindo todos esses outros, em novas formas de criar que levem em consideração diversas realidades de uso na internet.
Que tal descobrir mais sobre essas diversas realidades de uso? Você pode assistir a esta discussão sobre a inclusão de deficientes visuais na internet, e também conferir nosso post sobre o cenário jurídico da acessibilidade e inclusão digital no Brasil.
As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.